Um dia você acorda e descobre que sua casa foi levada por um furacão. Quando abre as janelas percebe logo que aquele não é mais o mesmo lugar. Sente o aroma do vento. Mas não é o mesmo vento. Parece mais arisco... mais inquietante... mais inspirador...
- Quem é você?
- Sou o vento.
- Por que me sinto diferente?
- Sente-se diferente?
- Sim. Renovada... forte... viva!
- E já não eras assim antes?
- Era?
- Lembra-te.
- Sim! Lembro-me... Mas já faz tanto tempo. Parece tudo tão... novo.
- E qual é a sensação?
- Poderia dominar o mundo se quisesse.
- Não sejas tola! Alguém tão frágil se renderia à primeira montanha.
- Eu a subjugaria! Nem mil delas poderiam me impedir! Nem mesmo um oceano inteiro me deteria!
- Tens determinação. Mas por que dominarias o mundo?
- Por mim. Por capricho.
- É um bom motivo.
- Sinto-me quente... Como se uma nova chama acabasse de nascer dentro de mim.
- Ela apenas despertou. Já estava aí.
- É estranho...
- Que mais poderias fazer por capricho?
- Poderia apostar uma corrida com você.
- Sou muito rápido. Não me vencerias.
- Não... Mas posso acompanhar seu ritmo. Não sou mais a mesma.
- Tens razão. Estás pronta para isso.
- Por que eu?
- Porque te conheço. Sei do que és capaz.
- Como me conheces?
- Não te lembra?
- Não...
...Então você se lembra do furacão. Da ira daquele vento. Do medo que ele pode despertar. Mas não fica assustado. Apenas registra aquilo mecanicamente, extraindo só o que foi importante. Aprende a lição...
- Não deixe sua essência de lado. Lembre-se sempre de quem tu és!
- Foi quando a essência adormeceu que perdi o controle de tudo.
- Sim.
- Não cometerei o mesmo erro.
- Estarei por perto para lembrar-te dessas palavras.
- Tens meu respeito e gratidão.
- Olhe ao seu redor agora. Veja o mundo que conquistastes.
- É lindo! Mas o que é aquilo?
- É uma estrada...
- ... de tijolos amarelos!
- Sim.
- Para onde ela leva?
- Para o futuro.
- Terei desventuras pelo caminho?
- Certamente.
- E boas surpresas?
- Muitas.
- Irei sozinha?
- Sente-se preparada?
- Absolutamente.
- Então porque perguntas?
- Alguma companhia não seria de todo mal.
- Tens a mim.
- Já é o suficiente.
- Também podes encontrar outros viajantes. Aqueles que tiveram a coragem de seguir em frente.
- Serão bem vindos.
- Pronta?
- Não! Me faltam os sapatinhos de rubi!
E como num passe de mágica eles aparecem em seus pés. E você se sente feliz por estar preparado para seguir em frente.
- Pronto! Agora estou pronta!
- Ótimo! Vamos?
- Imediatamente.
E enquanto caminha, cantarola uma velha canção. Aquela que sempre esteve em seus ouvidos, mas que agora vem de seu coração...
"Somewhere over the Rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true..."